sábado, 19 de novembro de 2011

FC do B 2010-2011

Depois de Cursed City, da Editora Estronho, mais uma publicação seleciona um conto que escrevi, o concurso FC do B 2010-2011. O meu conto chama-se Memorial e o livro sai pela Tarja Editorial - que, aliás, já está em pré-venda no site da editora. A novidade desta vez foi o concurso de ilustrações, que premiou o vencedor Carlos Reno com a (bela) capa. Além disso, estão saindo novas edições de colecionador para os panoramas 2006-2007 e 2008-2009.
É recompensador ver as iniciativas do Estronho, FC do B e Tarja, que permitem a novos autores ter seu trabalho publicado com qualidade e  respeito. Fiquei muito feliz e entusiasmado com esta notícia. Assim que tiver mais novidades, posto aqui no blog.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cursed City e Insanas em minhas mãos

Infelizmente, não tive como ir ao lançamento da Cursed City - Onde As Almas Não Têm Valor e Insanas, em São Paulo. Mas, enfim, pude ir ao encontro do Estronhomóvel na Praça do Papa (sou de Belo Horizonte também), conheci a galera que sigo no Twitter: M.D.Amado, Celly Borges e Ana Carolina Silveira. Uma pena que eu estivesse com tanta pressa, pois queria ficar lá e conversar mais - fica para a próxima.
Enfim, sobre os livros... O trabalho da Editora Estronho é sensacional mesmo, eu ainda não havia colocado minhas mãos num livro deles (e sim, prometo que da próxima vez, compro mais...). O acabamento é ótimo e o trabalho gráfico combina impacto e bom gosto - algo sempre difícil - em ambos os títulos. O tiro no Cursed City é a cereja do bolo. Sinceramente, se estes títulos ficassem expostos em grandes livrarias, com certeza chamariam a atenção do público com facilidade. Lamento apenas que, como o próprio Amado disse, BH City não é um território muito favorável a lançamentos em literatura fantástica.
E Cursed City  é meu primeiro trabalho publicado, o conto Sombras. Não poderia estar mais satisfeito e em melhor companhia.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Eu li: Imaginários - Volume 1

Demorei a ler as coletâneas Imaginários da Draco, então começo logo pelo primeiro volume. Antes de mais nada, já digo que é recomendado.

Coleira do Amor, de Gerson Lodi-Ribeiro
Curiosa consequência da quase imortalidade humana: como manter um relacionamento amoroso estável quando o tempo de vida se expande? Boa descrição de futuro, bons personagens (ainda que os diálogos pareçam “técnicos” demais, por vezes) e desfecho trágico e violento.

Eu, a Sogra, de Giulia Moon
Incursão leve e bem-humorada à fantasia na história de uma sogra que é, literalmente, uma bruxa. Narrada pela personagem principal que esbanja simpatia, termina de forma coesa e surpreendente.
Veio... Novamente, de Jorge Luiz Calife
História (bem) convencional sobre contato alienígena, valorizada pelo texto preciso de Calife, que lembra a abordagem de O Caçador, na coletânea As Sereias do Espaço.
A Encruzilhada, de Ana Lúcia Merege
Impressionante capacidade de descrever um mundo de fantasia em um conto curto que dá vontade de continuar lendo indefinidamente. Diálogos e personagens consistentes e cativantes, mas o título entrega parte da trama.
Por Toda a Eternidade, de Carlos Orsi
Um crime espacial que acaba em uma surpresa curiosa e terrível. Com uma pegada mais hard, exige atenção do leitor para acompanhar as idas e vindas da história, especialmente porque é um conto bem curto. 
Twist in My Sobriety, de Flávio Medeiros
Alienígenas e a noite de uma metrópole brasileira do futuro. A narrativa, quase toda sob o ponto de vista do protagonista, flui muito bem e se encaixa na revelação final. A descrição dos aliens é particularmente assustadora, apesar de algum excesso de explicações.

Um Toque do Real: Óleo Sobre Tela, de Roberto de Sousa Causo
A rigor, quase não é um conto fantástico: Um pintor em crise pessoal se vê imerso em delírios metafóricos sobre sua condição, incluindo monstros e desafios. O uso de expressões que fazem referência a atividade do artista enriquecem a narrativa. 
Alma, de Osíris Reis
Eis um conto de leitura mais complicada, em que uma boa ideia acaba se perdendo nos experimentos do autor. Mesmo em uma segunda leitura, a impressão é de alguma coisa fica para trás. Ainda assim, há ótimas cenas, que transmitem boa dose de tensão.
Contingência, Ou Tô Pouco Ligando, de Martha Argel
Deliciosamente irônico, cruel e engraçado, talvez o conto com mais elementos brasileiros da coletânea. Narrado por um escroque sagaz e inteligente, brinca com a ideia de universos paralelos e as consequências mais absurdas de um pequeno ato - citando O Som do Trovão, de Bradbury.
Tensão Superficial, de Davi M. Gonçalves
A estrutura (e o desfecho) lembra bastante um episódio de Twilight Zone, mas o personagem principal não convence: as frases não parecem ter nascido na mente de um adolescente.
Planeta Incorruptível, de Richard Diegues
Costumo torcer o nariz para misturas de FC e religião, mas este conto tem dois trunfos: o ponto de vista dos alienígenas que invadiram a Terra (e o conflito entre suas crenças e o cristianismo terrestre) e a conclusão, irônica.     
Em resumo: Uma ótima coletânea, com a necessária variação de estilos, temas e gêneros que fazem o leitor saltar de um universo a outro em poucas páginas. Os meus contos preferidos são, curiosamente, os das escritoras Giulia Moon, Ana Lúcia Merege e Martha Argel. 
Sobre a capa: Já conhecia o trabalho de Roko. Neste volume, a ilustração parece encarnar os 3 gêneros fantásticos citados na capa - FC, fantasia e terror. 
Em breve, minhas impressões sobre o segundo volume.
Imaginários - volume 1, Organização de Tibor Moricz, Eric Novello e Saint-Clair Stockler. São Paulo: Editora Draco, 1.ª Edição, 2009, 126 páginas. Capa de Roko.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O som das deadlines chegando (de novo)

Eles pararam em frente ao rio Anghar, que corta as terras do Sul na direção do mar de Draseus. Chegariam mais rapidamente ao porto da Cidade Velha se acompanhassem as margens do rio. Fillias ergeu a cabeça, como se isso o ajudasse a pressentir algo, e olhou para a necromante que o acompanhava, sua mulher. Encararam-se por um instante; em seguida, desceram ao mesmo tempo de seus cavalos. Annia se agachou e tocou o solo com a mão esquerda:
- Você também ouve isso?
- Sim. Serão elas de novo?
Fillias ajudou a necromante a se levantar. Sabiam que precisavam de mais tempo; o caminho mais longo para a Cidade Velha também era o mais tortuoso, atravessava montanhas e vales habitados por gigantes rudes e bandos de licantropos enlouquecidos após o assassinato de seu líder pelo rei.
- As deadlines são piores do que a estrada longe do rio. - Ela disse. - Mesmo eu tenho pouco poder contra elas.
- E minha espada seria completamente inútil.
O cavaleiro olhou para a mochila de couro pendurada no dorso do cavalo. Era preciso entregar aquelas histórias ao senhor dos barcos, Otto Vanderi, antes da terceira lua, e ainda havia páginas a escrever. Para isso contava com a ajuda de Annia, conhecedora das extensas linhagens de famílias das eras esquecidas. Se as deadlines os alcançassem, não teriam receio em devorar cada um dos papiros depois de sujá-los com o sangue dos seus autores. Poucas histórias sobreviveram aos seus ataques; ainda menos homens conseguiram descrever como elas haviam destruído suas obras em meio a rugidos e ao som implacável dos cascos ressoando pela floresta.
O mesmo barulho incessante do qual Annia e Fillias se afastavam agora, abandonando o leito seco do outrora caudaloso Rio das Sombras, e adentrando a Grande Floresta em direção às montanhas, aos gigantes e lobos, mas a salvo dos dentes afiados e olhos atentos das deadlines. Ao menos, temporariamente.
***
É isso mesmo. O som das deadlines volta a incomodar. Segue a lista das próximas coletâneas e chamadas, em ordem cronológica, com links para as mesmas. Boa sorte a todos que se dispuserem a cumpri-las:

22/06 - Bonecos : Medo B
O blog MedoB promove a seleção de contos para um e-book: Histórias de terror envolvendo bonecos.

24/06 - Caçadores de Vampiros : Editora Buriti
A editora Buriti pretende lançar uma série de livros com caçadores de seres sobrenaturais - começando com vampiros.

01/07 - FCdoB
O concurso FCdoB já é tradicional. Este biênio, uma novidade: selecionará ilustrações também.

01/07 - Le Monde Bizarre : Estronho
Quem nunca teve medo do circo e dos segredos abaixo da lona e dentro dos trailers?

15/07 - VII Demônios - Ira : Estronho
O último volume da coleção VII Demônios, dedicado a Ira / Azazel. Última oportunidade para participar!

01/08 - Quando o Saci Encontra os Mestres do Terror : Estronho
O Estronho é hiperativo... Aqui, a ideia é unir o folclore nacional ao terror, homenageando-o e dando-o uma nova perspectiva.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Eu li: Guerra Justa, de Carlos Orsi

Acompanho há algum tempo o blog de Carlos Orsi, seu trabalho como jornalista especializado em divulgação científica e lembro-me de quando assinava Carlos Orsi Martinho, na época da IAM. Guerra Justa é o primeiro romance de sua autoria que leio e dá para notar nitidamente a influência dos assuntos que aborda em seu blog: a influência (ou interferência) das religiões e o impacto da ciência e do progresso científico no mundo atual.

Em resumo: após a queda de um meteoro no mar Mediterrâneo, a humanidade se vê orfã de referências geográfico-religiosas, já que os grandes centros de fé foram destruídos em um único evento. Um homem conquista espaço e influência apresentando-se como um profeta habilidoso, capaz de prever grandes e terríveis acontecimentos, aglutinando em seu culto o que restou das religiões afetadas pela catástrofe. Mas há um grupo de rebeldes que não acredita nesta liderança e pretende derrubá-la, envolvendo duas irmãs gêmeas, a freira Rebecca e a cientista Rafaela, em suas ações.

A leitura de Guerra Justa flui rapidamente, graças a fragmentação da narrativa em capítulos curtos e que variam constantemente de ponto de vista, abordando diferentes personagens, tempos e linhas que acabam se influenciando, em maior ou menor grau. A história ganha ritmo de Techno-thriller e me interessei por ela logo nos primeiros capítulos, ou melhor, pelo destino daquele grupo de rebeldes e em sua estratégia incomum para tentar enganar uma suposta entidade capaz de prever cada passo da história: o uso do acaso. Chega a ser engraçado o modo como até mesmo as roupas usadas pelos membros são escolhidas assim.

Quando li a sinopse, me incomodou a ideia de uma história envolvendo personagens gêmeos, que costumam cair no clichê do bacana e do malvadão. É claro que subestimei a inteligência do autor, que, logo nas primeiras páginas, desfaz completamente a expectativa do leitor de uma forma inusitada e até um tanto cruel. Aliás, como dito, a leitura é veloz e, se há um problema neste romance, é a velocidade em que ideias são interessantes são descritas. O mundo de Guerra Justa é plausível e complexo, envolvendo desde implantes neurais que ajudam as pessoas a distinguir o real do virtual (e que, claro, podem ser invadidos e contaminados por vírus) a estações espaciais e inteligências artificiais. É um roteiro ambicioso, e geograficamente amplo, espremido em uma novela de 150 páginas. Não digo que seria melhor se o livro fosse maior - na verdade, este é um mérito, pois não há gordura - mas acaba exigindo uma segunda leitura, mais atenta ao cenário do que a trama, para ser apreciado totalmente. Não sei também se era intenção do autor aproximar a figura do “profeta” das interpretações contemporâneas que algumas denominações cristãs, especialmente protestantes, fazem do Anticristo descrito na Bíblia - eu não consegui afastar esta comparação de minha mente enquanto lia.

Parabéns a Draco que imprimiu algumas passagens “invertidas” (letras brancas sobre folhas pretas) e demonstra mais uma vez um trabalho editorial exemplar. Há um ou outro errinho bem bobo de digitação (“do” no lugar de “da”, este tipo de coisa), mas não chega a atrapalhar.

Guerra Justa, Carlos Orsi. São Paulo: Editora Draco, 1.ª Edição, junho de 2010, 150 páginas. Capa de Erick Sama.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Degustação: Cursed City

A Editora Estronho disponibilizou, em seu site, uma degustação em PDF da coletânea Cursed City - Onde As Almas Não Têm Valor. São dois contos: O gigante, a curandeira e a lutatora de kung-fu, de Alfer Medeiros, e Just like Jesse James, de Alliah. A ideia é ótima: Muitas vezes, o tema de um livro, as informações de orelhas e quarta capas nos fazem querer lê-lo, mas nada melhor do que uma degustação de verdade.
Aliás, eu participo desta coletânea também :-) .

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eu li: A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr

Muitos leitores têm medo do hype. Temem que, após a leitura de uma obra badalada, não a achem tão interessante quanto os amigos, blogs e sites preferidos andaram alardeando. Isso não acontece com A Batalha do Apocalipse; de fato, se a obra de Eduardo Spohr alcançou o status de épico da literatura fantástica nacional, foi especialmente por seus méritos.

A história dos bastidores todo mundo já conhece: Jovem Nerd, livro independente, sucesso de vendas, saiu pela Record, etc. Mesmo quem não leu também já sabe mais ou menos a trama: o último dos anjos renegados, Ablon, é convidado pelo seu inimigo, Lúcifer, para lutar ao seu lado contra seus antigos aliados, liderados pelo arcanjo Gabriel. O mundo caminha rapidamente para a guerra final, e Ablon aos poucos entenderá a complexidade e dimensão do que aguarda não apenas a humanidade, mas o céu e o inferno.

O que mais impressiona em A Batalha do Apocalipse é a coerência do mundo criado por Spohr e a forma como ideias aparentemente díspares de religiões e mitos distintos são interligados. Não há soluções fáceis ou sacadas de última hora, e aceitamos sem problemas um universo habitado tanto por anjos quanto por espíritos de pessoas mortas, antigos deuses quase esquecidos por seus adoradores, minúsculos e delicados seres cuja existência pode ser varrida por um sopro ou demônios cruéis e disformes. O leitor é, na maior parte do tempo, conduzido pelo olhar de Ablon, que, a despeito de ter ocupado um lugar relativamente privilegiado no plano espiritual, desconhece uma parte substancial do universo: O personagem se surpreende com descobertas fascinantes, algumas belíssimas e outras, terríveis.

O que nos leva ao desenvolvimento dos cenários, incrivelmente variados, pois cobrem momentos distantes entre si no tempo e lugares separados por oceanos e continentes inteiros.  Em especial, a caracterização da antiga Babilônia, das cidades da China e da atual Jerusalém me impressionaram. Todos eles parecem críveis e reais. O mesmo vale para os mundos imaginários; é possível compreender a maravilhosa aparência da Atlântida e decrepitude do inferno em poucos parágrafos.

Os personagens são interessantes e bem desenvolvidos. Ainda que Ablon corresponda a um herói arquetípico, alguns de seus atos resultam em erros, equívocos e decisões erradas – os anjos não são infalíveis, afinal. A feiticeira Shamira aparece como o contraponto humano de uma história milenar e é a personagem que permite ao leitor não se perder na amplitude da trama. Nimrod, Lúcifer, Gabriel, Miguel, Orion, Amael, Flor do Leste são fascinantes em suas motivações, erros, redenções, mesmo aqueles movidos por um único desejo (como a Estrela da Manhã) têm seus momentos de dúvida. A exceção é Apollyon, espécie de nêmesis de Ablon, que parece cumprir apenas esta função – embora sua natureza seja perfeitamente explicada ao final.

É um romance épico; logo, batalhas e lutas acontecem constantemente. O pulso do escritor é firme, os movimentos dos oponentes são descritos com clareza e a narrativa destes eventos é sempre bem conduzida – o que vale para a longa batalha final. Muita gente estabeleceu paralelos entre estas lutas e o anime Cavaleiros do Zodíaco. Confesso que nunca gostei do desenho (se eu escrevesse isso no Twitter, haveria um #prontofalei aqui) e não o tenho como referência. Senti, claro, um quê de anime nas armaduras, golpes e estratégias dos anjos, mas nada tão certeiro. Felizmente, no livro ninguém grita o nome de seus golpes antes de descer o sarrafo no inimigo.

Talvez o flashback que interrompe um momento crucial na trama seja longo demais, mas a história narrada nela é tão interessante que dá até para se esquecer deste probleminha. Imagino o trabalho louco que o autor teve para encaixar tanta informação sobre o passado dos personagens em flashbacks posicionados de tal forma que fossem úteis, interessantes e não parecessem forçados, como se estivessem ali apenas para explicar algo importante no capítulo seguinte. Embora estas interrupções na trama não tenham me incomodado, acredito que poderiam ter sido mais trabalhadas. O mesmo acontece com algumas informações-chave que o autor acaba repetindo em excesso. Entendo que um romance extenso como ABdA (para os íntimos, claro) se beneficie destas repetições, mas algumas ficaram próximas demais e tornaram-se óbvias – por exemplo, a que estabelece a relação entre a espada e o seu portador, nos primeiros capítulos. Em outros momentos, talvez fosse mais interessante deixar uma ou outra conclusão para o leitor. Cito o reencontro (spoiler adiante!) com o rei Nimrod. Não era realmente necessário explicitar de quem se tratava - eu, pelo menos, já o havia identificado. Aliás, este trecho é particularmente tocante, como outros no livro. Fiquei fascinado pela economia e precisão na descrição da beleza e sabedoria dos ofanins, da altivez de Gabriel e da humanidade ao mesmo tempo simples e grandiosa de Flor do Leste. Em outros momentos, Spohr abusa um pouco dos adjetivos, em especial nas descrições de lutas e habilidades dos anjos. Mas não é nada que chegue a atrapalhar.

O final é ambicioso e recheado de revelações impactantes. Mais uma vez, a solidez do universo de ABdA serve de sustentação a estas revelações, que se encaixam e passam a fazer ainda mais sentido quando o leitor as relaciona a detalhes narrados anteriormente. É neste momento que um escritor novato, como eu, tem de reconhecer a importância da pesquisa (o mesmo ocorre em outro excelente livro, O Centésimo em Roma de Max Mallmann) e o trabalho de artesão necessário para fazer com que ela se “dilua” naturalmente na obra, ajudando a fazer de um mundo inventado um cenário crível, palpável.

Enfim, A Batalha do Apocalipse merece o lugar de destaque que tem ocupado na literatura fantástica nacional. É um livro que li com prazer e interesse genuíno sobre o destino dos personagens – chegando mesmo a temer por alguns deles.

terça-feira, 8 de março de 2011

Nas Montanhas da Loucura: cinema é para crianças, TV é para adultos?

A notícia sobre o possível cancelamento da adaptação de Nas Montanhas da Loucura, de H. P. Lovecraft, pelo diretor Guihermo delToro, me fez pensar em algumas coisas. A alegada razão para o cancelamento seria o medo da Universal em investir um orçamento bastante generoso (150 milhões de dólares) em um projeto que receberia censura R, mesmo contando com Tom Cruise no elenco e a tecnologia 3D desenvolvida por James Cameron para Avatar. Em Hollywood, um filme só é considerado um sucesso se atinge bilheteria superior a três vezes seu custo de produção. Logo, Nas Montanhas da Loucura só daria lucro se chegasse a 450 milhões de dólares de bilheteria.
Em resumo: adultos que gostam de ficção científica e fantasia podem esperar sentados por um filme dirigido a eles. Ao menos, uma produção que dependa de efeitos especiais massivos. Nada contra filmes menores e mais arriscados (Moon, por exemplo), claro, mas quem disse que adultos não vão ao cinema para ver enredos fantásticos também? Eu me arrisco a dizer que o público entre 25 e 35 anos seria suficiente para justificar a produção de um filme como este.  Mas, e especialmente após a crise dos últimos anos, Hollywood quer bilheterias astronômicas e aposta na supremacia dos muito jovens. Por isso mesmo, o PG-13 se tornou um objetivo a ser atingido por muitos filmes – inclusive por alguns que não deveriam se adequar a este padrão. Os produtores que se defendem, citado bilheterias decepcionantes como as de O Lobisomem, se esquecem convenientemente da qualidade dos exemplos escolhidos.
A saída para histórias fantásticas para adultos tem sido a TV. Parece haver menos riscos e um custo de produção bem menor, além do barateamento dos recursos necessários para se fazer boa FC & F na televisão. Também é verdade que a venda de espaços publicitários nos intervalos é uma grande fonte de renda, algo que não é possível de se fazer no cinema – melhor nem imaginar um produtor querendo colocar Coca-Cola numa taverna frequentada por anões e guerreiros.
Produções como True Blood na HBO e The Walking Dead na Fox provam que a combinação tem dado certo. Não é à toa que a TV esteja atraindo cada vez mais atores e diretores do primeiro escalão.  Livres das exigências de um mercado cinematográfico que se dirige com volúpia apenas aos muito jovens, os roteiristas para a TV têm se arriscado mais e colhido resultados bem interessantes. Talvez a maior aposta (e maior prova disso) seja A Guerra dos Tronos, a nova série baseada nos livros de George R. R. Martin produzida pela mesma HBO que levou a sexualidade dos vampiros (e outras criaturas) de Charlene Harris para as telas. Aguardamos ansiosamente.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Suspensão de descrença

Conheço muita, muita gente mesmo que tem absoluta aversão a qualquer obra fantástica, seja no cinema ou na literatura. Eu acho bastante estranho isso, já que não tenho aversão a gêneros específicos - a exceção do "filme-família com bichos falantes feitos com CGI vagabunda" e do "filme-de-adolescente cantor que vai provar seu valor em Los Angeles". Sinceramente, acredito que é possível escrever bons livros e bons roteiros em qualquer cenário e gênero. Há sempre gente talentosa em qualquer, digamos, nicho narrativo. Mas, parafraseando o Inagaki, tergiverso. Voltemos.
Há quem prefira o mainstream; ou a literatura do cotidiano, claro. Mas tenho contato constante com pessoas que odeiam fantasia e ficção científica porque não as entendem. Ou melhor, não entendem o universo criado nestas obras; são incapazes de imaginar histórias que não estejam firmemente ancoradas na realidade. Eu poderia ser um tanto preconceituoso e dizer que elas sofrem de déficit de supressão de descrença.
A supressão da descrença refere-se, usando o conceitinho lá da Wikipedia ,"à vontade de um leitor ou espectador, de aceitar como verdadeiras as premissas de um trabalho de ficção, mesmo que elas sejam fantásticas, impossíveis ou contraditórias." O melhor exemplo na literatura mainstream é o realismo fantástico latino-americano (aliás, por muito tempo, o gênero foi o sinônimo da América Latina literária em boa parte do mundo). No Brasil, o representante mais lembrado é Murilo Rubião e seu livro O Pirotécnico Zacarias. São, geralmente, histórias em que eventos ou elementos fantásticos atravessam o cenário da narrativa que é, em sua maioria, realista.
Já a FC&F exige muito mais do leitor (e por isso mesmo, para atingir um patamar eficaz de supressão de descrença no leitor, também exige muito do escritor); muitas vezes, apresenta uma "gramática" própria, e pressupõe um certo conhecimento de seus conceitos, clichês e amplitude. Não agrada a todos, claro. Só impressiona o grau de rejeição quase patológica que algumas pessoas sofrem em relação a FC&F. Sem querer ser machista, destas pessoas que conheço, a maioria são mulheres e, dentre elas, 99% acompanham telenovelas.
Pois bem: confesso aqui sofrer do mesmo problema em relação às novelas. Não consigo ativar meus neurônios de supressão de descrença para aceitar que um moleque de vinte anos possa assumir uma empresa multinacional após descobrir que é o filho perdido de um grande industrial, ou que dois irmãos separados por milhares de quilômetros e dezenas de anos venham a se apaixonar (ok, Luke e Leia, essa é para vocês também), ou ainda que todos os conflitos desenvolvidos ao longo de meses se resolvam em mais ou menos uma hora e meia de capítulo final, culminando no casamento dos mocinhos e na punição exemplar dos vilões.
Enfim, cada um tem seus limites de descrença.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

David Gerrold e a Criança de Marte

David Gerrold é um escritor de ficção científica famoso por ter escrito o roteiro de um dos episódios clássicos de Star Trek: The Trouble with Tribbles. Nesta entrevista em duas partes, publicadas pelo Star Trek Brasilis, ele fala de seu envolvimento com Jornada nas Estrelas, seus livros e a polêmica recentemente trazida de novo à tona sobre a inexistência de personagens gays em ST - Gerrold é homossexual assumido:


Entrevista com o escritor David Gerrold - Parte 1
Entrevista com o escritor David Gerrold - Parte_2


Nem todo mundo sabe, mas o simpático filme Martian Child / Ensinando a Viver é baseado numa noveleta semi-autobiográfica de autoria de Gerrold. Ele narra as dificuldades no relacionamento entre ele e uma criança que acredita piamente ter vindo de Marte, que o escritor acaba adotando. O filme é exibido com alguma frequência na TV a cabo e não deve ser difícil achá-lo em locadoras. Ainda que não seja FC, é bem interessante, bem conduzido e dirigido com cuidado pelo desconhecido Menno Meyjes, que consta como um dos roteiristas de Indiana Jones e a Última Cruzada.



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Antologias, concursos e seleções

Chega a ser impressionante a quantidade de antologias e seleções abertas no início de 2011. Como bem disse a Ana Cristina Rodrigues em seu formspring:

As antologias cobrem um nicho que aqui no Brasil não existe, que é o das revistas literárias. Muitas carreiras lá foram começam assim, com a publicação de contos em várias publicações para só depois chegar ao romance. E muitos escritores permanecem escrevendo somente histórias curtas, fazendo carreira como contistas.

Listo a seguir as de que me lembro agora. Se esqueci alguma, por favor deixe um comentário para que eu atualize este post. Mas não listarei coletâneas pagas, por razões pessoais - eu não participo deste tipo de antologia.

Steampink: Steampunk Para as Garotas - Contos steampunks escritos por mulheres, a visão feminina de um  subgênero de grande sucesso no Brasil. Editora Estronho.

VII Demônios - Sete livros, um para cada demônio e o pecado associado. Editora Estronho.

Deus Ex-Machina : Anjos e Demônios na Era do Vapor - Mais steampunk, desta vez com batalhas entre as forças demoníacas e angelicais. Editora Estronho.

1000 Universos - A revista online chega ao seu terceiro número, conclamando os autores a escrever sobre fantasmas. Café de Ontem.

FC do B: Concurso que seleciona e publica autores e que também chega a sua terceira edição. FC do B.

Dieselpunk: Vapor é bom, mas para os organizadores desta antologia, fumaça é muito melhor. Editora Draco.

A Fantástica Literatura Queer: Contos de FC & F dedicados à diversidade sexual. Tarja Editorial.

A quantidade, a variedade e o interesse despertado pelas antologias são uma demonstração do crescimento do mercado brasileiro de literatura fantástica. Para quem, como eu, tem interesse em melhorar como autor e chegar a ser publicado, estas são um caminho sólido e profissional.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Link da semana: 65 Autores e 5 Editoras que os fãs de literatura nacional devem seguir

No Café de Ontem, uma relação sensacional do twitter de 65 autores e 5 editoras dedicados a literatura fantástica nacional que valem a pena seguir.

Sobrevivi a Cursed City!

Cursed City, a antologia de contos terror e western lançada pelo Estronho, divulgou a lista de sobreviventes e eu sou um deles! Estarei em ótima companhia, o que é ótimo; afinal, para passar pela velha e empoeirada cidade  mais temida do Oeste, é melhor não estar sozinho...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Para começar bem 2011

Jacques Barcia, a quem devo minha introdução ao mundo do New Weird no saudoso Papo na Estante, anunciou em seu blog que está concorrendo ao Hugo com três contos. Como disse o Fábio Fernandes no Twitter, se os brasileiros votarem nele, fica entre os finalistas fácil.

Já que mencionei o Papo na Estante, vale conferir a reunião de Ana Cristina Rodrigues, Eric Novello e Ana Carolina no Papo de Artista 23, dedicado a literatura fantástica brasileira. Via Eric Novello.

E o Café de Ontem publicou o primeiro número da revista digital 1000 Universos. Ainda não li os contos, infelizmente. A edição está muito bonita, bem cuidada e diagramada, um trabalho de primeira.