A história dos bastidores todo mundo já conhece: Jovem Nerd, livro independente, sucesso de vendas, saiu pela Record, etc. Mesmo quem não leu também já sabe mais ou menos a trama: o último dos anjos renegados, Ablon, é convidado pelo seu inimigo, Lúcifer, para lutar ao seu lado contra seus antigos aliados, liderados pelo arcanjo Gabriel. O mundo caminha rapidamente para a guerra final, e Ablon aos poucos entenderá a complexidade e dimensão do que aguarda não apenas a humanidade, mas o céu e o inferno.
O que mais impressiona
O que nos leva ao desenvolvimento dos cenários, incrivelmente variados, pois cobrem momentos distantes entre si no tempo e lugares separados por oceanos e continentes inteiros. Em especial, a caracterização da antiga Babilônia, das cidades da China e da atual Jerusalém me impressionaram. Todos eles parecem críveis e reais. O mesmo vale para os mundos imaginários; é possível compreender a maravilhosa aparência da Atlântida e decrepitude do inferno em poucos parágrafos.
Os personagens são interessantes e bem desenvolvidos. Ainda que Ablon corresponda a um herói arquetípico, alguns de seus atos resultam em erros, equívocos e decisões erradas – os anjos não são infalíveis, afinal. A feiticeira Shamira aparece como o contraponto humano de uma história milenar e é a personagem que permite ao leitor não se perder na amplitude da trama. Nimrod, Lúcifer, Gabriel, Miguel, Orion, Amael, Flor do Leste são fascinantes em suas motivações, erros, redenções, mesmo aqueles movidos por um único desejo (como a Estrela da Manhã) têm seus momentos de dúvida. A exceção é Apollyon, espécie de nêmesis de Ablon, que parece cumprir apenas esta função – embora sua natureza seja perfeitamente explicada ao final.
É um romance épico; logo, batalhas e lutas acontecem constantemente. O pulso do escritor é firme, os movimentos dos oponentes são descritos com clareza e a narrativa destes eventos é sempre bem conduzida – o que vale para a longa batalha final. Muita gente estabeleceu paralelos entre estas lutas e o anime Cavaleiros do Zodíaco. Confesso que nunca gostei do desenho (se eu escrevesse isso no Twitter, haveria um #prontofalei aqui) e não o tenho como referência. Senti, claro, um quê de anime nas armaduras, golpes e estratégias dos anjos, mas nada tão certeiro. Felizmente, no livro ninguém grita o nome de seus golpes antes de descer o sarrafo no inimigo.
Talvez o flashback que interrompe um momento crucial na trama seja longo demais, mas a história narrada nela é tão interessante que dá até para se esquecer deste probleminha. Imagino o trabalho louco que o autor teve para encaixar tanta informação sobre o passado dos personagens em flashbacks posicionados de tal forma que fossem úteis, interessantes e não parecessem forçados, como se estivessem ali apenas para explicar algo importante no capítulo seguinte. Embora estas interrupções na trama não tenham me incomodado, acredito que poderiam ter sido mais trabalhadas. O mesmo acontece com algumas informações-chave que o autor acaba repetindo
O final é ambicioso e recheado de revelações impactantes. Mais uma vez, a solidez do universo de ABdA serve de sustentação a estas revelações, que se encaixam e passam a fazer ainda mais sentido quando o leitor as relaciona a detalhes narrados anteriormente. É neste momento que um escritor novato, como eu, tem de reconhecer a importância da pesquisa (o mesmo ocorre em outro excelente livro, O Centésimo em Roma de Max Mallmann) e o trabalho de artesão necessário para fazer com que ela se “dilua” naturalmente na obra, ajudando a fazer de um mundo inventado um cenário crível, palpável.
Enfim, A Batalha do Apocalipse merece o lugar de destaque que tem ocupado na literatura fantástica nacional. É um livro que li com prazer e interesse genuíno sobre o destino dos personagens – chegando mesmo a temer por alguns deles.