segunda-feira, 10 de março de 2014

True Detective: estamos todos em Carcosa agora?

Atenção: SPOILERS de todos os episódios, inclusive do último. Se ainda não assistiu a toda a série, leia por sua conta e risco.

A série

True Detective mobilizou milhares, talvez milhões de fãs na internet, compartilhando e criando teorias, unindo peças sutis, detalhes quase imperceptíveis e grandes sacadas para desvendar o mistério dos assassinatos e estupros ritualísticos cometidos na Louisiana de 1995. Poucas vezes se viu, na televisão, uma série tão adulta e pessimista, aliando alta qualidade de texto, interpretações e cinematografia.
Criada pelo escritor e roteirista Nic Pizzolato (também responsável por dois episódios de The Killing) e dirigida por Cary Joy Fukunaga (Jane Eyre), True Detective pretende ser uma antologia de histórias. Cada temporada apresentará uma trama diferente, com personagens e cenários distintos. Nesta primeira encarnação, Pizzolato explora o sul da Louisiana, sua terra natal, e nos oferece uma terra em que a civilização e a selvageria não apenas convivem, mas é quase impossível dizer onde uma termina e começa a outra. O homem é o mais cruel dos animais, já dizia o pôster de True Detective.

Narrativa

Há três linhas temporais: 1995, 2002 e 2013. O texto demonstra habilmente como os acontecimentos em um momento influenciaram os rumos da história e dos personagens até os dias de hoje. Tudo é relativamente sutil, e exige bastante atenção do espectador. O que faz a união entre os diferentes tempos são os entrevistas da polícia com dois ex-detetives, Marty (Woody Harrelson) e Rust Cohle (Matthew McConaughey), os responsáveis pela investigação dos crimes cometidos em 1995.
Aos poucos, o espectador descobre o que afastou os dois homens, o rumo das investigações e o mais importante: que eles não dizem toda a verdade. O que eles estão fazendo é, em resumo, contar suas versões da história. Como bem notou Ana Maria Bahiana, True Detective é também sobre a arte de narrar. Há mil histórias possíveis na série, como se Sherazade estivesse nos entretendo com um único grande e detalhado conto sobre violência, degradação e desesperança de uma forma tão verdadeira que é impossível parar de ouvir sua voz.
Quem esperava de True Detective a união de todas as pistas na direção de uma única explicação integrada e redentora pode se decepcionar. Pizzolato dispôs uma quantidade absurda de peças, escondidas em tatuagens no pescoço de um personagem, o quadro ou a foto na parede da casa de outro, uma única fala que parece gratuita mas que ecoa em acontecimentos mostrados dois ou três episódios depois. A série abasteceu os fãs com toneladas de possíveis red herrings e muitos sequer foram explorados. Por quê?
Em primeiro lugar, a série acompanha os pontos de vista de apenas três personagens: Rust, Marty e sua mulher, Maggie (Michelle Monaghan). Ou seja, é um recorte de uma realidade maior. As conexões dos crimes escabrosos investigados pelos dois detetives são amplas demais, grandes demais para que eles consigam reconstruir. Além disso, ao contrário de obras mais convencionais, em que um ou dois detetives desvendam e desmontam esquemas grandiosos de crimes, aqui uma boa dose de realidade se faz presente, expressa na fala de Marty ao final, quando Rust lamenta não terem pego todos os envolvidos: “Mas pegamos o nosso homem”. Logo, há tanto elementos que eles não conseguem relacionar (seja porque o foco da investigação era mais simples e urgente, seja porque, afinal, não tiveram tempo) quanto outros que apenas o espectador percebe e que, muito provavelmente, fazem parte da trama.
Por exemplo: os desenhos de cunho sexual feitos por Audrey, filha de Marty, a sua transformação em uma adolescente problemática e posterior artista adulta (um de seus supostos quadros tem estrelas negras e espirais, elementos recorrentes da série) que mantém a sanidade a base de medicamentos, revelação feita por Maggie ao seu pai. Junte-se a isso o círculo de bonecas feito por ela, reproduzindo o estupro ritual e grupal praticado pelos pedófilos do grupo, e (outra vez) Maggie revelando que o marido se encontrou na igreja, por algum tempo. Haveria ligação entre o culto ao Rei Amarelo, a igreja que Marty frequentou e as estranhas reações de sua filha? Espertamente, Pizzolato jamais responde a pergunta, deixa que ela fomente a mitologia da série.

Carcosa e o Rei Amarelo

Falando em mitologia, True Detective chamou a atenção da comunidade de fãs de literatura fantástica pela relação com o livro The King in Yellow, de Robert W. Chambers, como notado no já famoso artigo do io9. A cidade mítica de Carcosa, as estrelas negras, o Rei Amarelo e a revelação da natureza incompreensível e enlouquecedora do universo são citados várias vezes. Curiosamente, o livro The King in Yellow jamais é mencionado. É como se True Detective se passasse em um universo em que esta obra não existe (é natural supor que Rust, com sua erudição e interesse pela natureza humana, a conhecesse, mas ele não fala nela). Na verdade, talvez seja algo ainda pior: a série se passa num mundo em que homens equilibrados e influentes acreditam em horrores que envolvem o sacrifício e o estupro de crianças e mulheres sob a desculpa de uma suposta força superior. Quando Rust e Marty finalmente encontram Reggie Ledoux, um dos assassinos e membro da seita, ele diz a Rust: “Você está em Carcosa agora”.
Note-se também que o amarelo é uma cor tradicionalmente relacionada a decadência, a deterioração. Várias vezes, especialmente quando Rust é enquadrado, a palheta de cores aproxima-se bastante do amarelo, do ocre, dando a várias sequências uma aparência de degradação. Em determinado momento, o próprio Cole diz que “sua vida foi apenas degradação e violência. Estou pronto para dar um fim a isso”.

Personagens

A grande estrela de True Detective são seus dois protagonistas, Marty e Rust, ambos interpretados com maestria por Woody Harrelson e Matthew McConaughey.
Marty é um policial conservador, casado e pai de duas filhas, que deixa sua inteligência e energia serem dragados por casos extraconjugais que lhe custarão muito caro. Se Rust age e vive conforme sua visão bastante particular do mundo e da humanidade, Marty prega uma coisa e faz outra. Não sabe lidar com sua filha adolescente e tende a resolver seus conflitos de forma violenta (atira em Ledoux por impulso e espanca metodicamente os dois jovens flagrados com Audrey).
Rust é um niilista, pessimista e ateu convicto, perdido em um sul norte-americano cristão. Despreza a humanidade (“um erro da evolução movido a ilusão de consciência e individualidade”) e o universo (“um sistema fechado em que tudo se repete infinitas vezes; você morre, apenas para renascer na mesma vida e repeti-la novamente”). Inicialmente reservado, faz de Marty o depositário de sua visão aterrorizante de mundo.
É a relação e a evolução dos dois o grande arco de True Detective, e isso é mais importante do que a trama. Eles só serão íntegros, só serão homens realizados ao abraçar a obsessão de resolver os crimes de 1995. Ambos mentiram para si mesmos, viveram a ilusão de ter encerrado o ciclo de assassinatos. O momento em que o que realmente aconteceu no esconderijo de Ledoux e o que eles contam a polícia é um dos pontos altos da série. Eles são aclamados heróis e vivem vidas boas e felizes por algum tempo. Mas, aqui, a felicidade é uma ilusão. Marty tem de lidar com a desintegração de seu casamento e de sua relação com a filha. E Rust é novamente atraído para o caso (é emblemática a cena em que ele se aproxima de uma espiral de gravetos no tronco de uma árvore, como se o estivesse chamando), o que o leva a sair da polícia definitivamente. Lançados de volta ao vazio, eles se reúnem em 2013 e seguem as pistas colecionadas por Rust até a família de Tuttle e o “homem com cara de espaguete”. Agora focado no caso, é Marty quem acaba fazendo a conexão necessária para descobri-lo.
Ainda temos Maggie, a mulher de Marty, que, muitas vezes, faz o papel do espectador, tecendo observações pertinentes sobre seu marido e Rust (por quem, desconfio, tinha certa queda, correspondida secretamente). “Rust é um homem decente.”, ela diz. “Ele sempre soube exatamente quem era. Ao contrário de Marty, que jamais descobriu quem realmente é”.

O final (feliz?)

Diante de tanta expectativa e teorias (algumas completamente alucinadas) dos fãs, o final, exibido no dia 09 de março, dividiu opiniões. Em parte, confesso, esperava mais. Talvez mais detalhes, uma maior explicação da “grande conspiração”. Mas eu descobri que estava pensando de forma equivocada, havia sido enganado pela expectativa padrão que criamos sobre toda história de detetives: a solução do crime. True Detective, como eu já disse antes, concentra-se no ponto de vista e nas pistas limitadas seguidas por dois personagens. O resto é a mitologia da série. O final não poderia ser mais simples e direto, como deve ser uma destas histórias. Foi intenso e, em alguns momentos, perturbador – de um jeito um tanto errado.
Concordo com o io9, que cita como ponto fraco a criação de um vilão óbvio para encerrar a trama. O white trash Errol em sua casa decrépita, com o pai morto acorrentado na cama, e mantendo relações sexuais com sua tia obesa e de intelecto aparentemente limitado parecia uma mistura de Seven e O Massacre da Serra Elétrica com o mais grotesco episódio de série de TV já feito: o Arquivo X dos irmãos deformados que escondiam a mãe amputada debaixo da cama e mantinham... ok, você já entendeu. Foi uma concessão um tanto óbvia ao desejo do espectador em ver o mal em toda a sua horripilante natureza. True Detective não precisava disso. Já havíamos sido expostos a toda forma de mal, de formas sutis ou explícitas, e Errol acabou parecendo uma caricatura, quase um exagero. Mas há algumas coisas que merecem ser mencionadas e que podem explicá-lo.
A casa dele tem pilhas de livros. Seu vocabulário e construções gramaticais são ricos e articulados. Errol é cruel e inteligente (“ele é o pior de todos”, diz sua tia para Marty), fazendo-se de tolo para se aproximar das crianças que sacrifica e violenta. Por outro lado, é o elo mais fraco da corrente, fruto das maquinações dos poderosos Tuttle. Se Errol é uma caricatura do mal, ele é assim porque é pouco mais do que um “boi de piranha”, o monstro que nós identificamos com facilidade enquanto os maiores vilões estão escondidos por trás de reputações, poder, igrejas e influência.
Se Rust e Marty, apesar de todos os indícios em contrário, sobrevivem, é uma surpresa agradável, afinal, gostamos deles. Rust, na cadeira de rodas, diz que no fundo, tudo tratou-se da mais antiga das histórias, “da luz e das trevas”. Quando Marty diz que olhando o céu, parece-lhe que há mais trevas, Rust replica, dizendo que, do seu ponto de vista, significa que a luz ainda prevalece. Ambos caminham para fora do hospital e parecem, mais do que nunca, dois amigos de longa data. É um final feliz, certo? Até certo ponto sim, mas não tenho tanta certeza, pois nada em True Detective é tão simples.
Eles pegaram apenas um assassino (“pelo menos pegamos o nosso homem”). Tuttle e outros, tão ou mais poderosos do que ele, continuarão matando. Provavelmente pararão por algum tempo, deixarão a poeira baixar, mas logo contarão novamente com a impunidade e a estrutura que criaram para prosseguir com seu culto bizarro. Além disso, a cena que mais incomodou os fãs, a suposta negação de Rust a suas ideias niilistas, não é bem assim. Quando próximo da morte, ele diz ter sentido estar caindo em um lugar quente, onde só havia o amor de sua filha, morta em um acidente de carro, lá, esperando por ele. “Eu não deveria estar aqui, cara”, ele diz. Rust gostaria de ter morrido. Quase morto, ele sentiu novamente a ilusão da individualidade e da conexão com um significado superior. Não é que Rust tenha recuperado uma suposta espiritualidade perdida, mas ele gostaria de ter morrido imerso nesta ilusão. Quando ele diz que não deveria estar aqui, sentimos em sua voz o desespero de estar vivo, o desespero que ele sempre sentiu. Logo no segundo episódio, ao descrever sua ideia da natureza, Marty lhe pergunta: “Por que você não se mata, então?”. Ao que Rust responde simplesmente que “não tem a natureza dos suicidas”. Ele está preso aqui. Em Carcosa.


Nota: A estranha alucinação que ele sofre pouco antes de ser atingido por Errol parece algo saído de um filme de Guilhermo delToro. É como um buraco negro que se abre no céu. Mas dá para notar que esta estranha fenda engole estrelas igualmente negras.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Gente séria e... bom, nem tão séria.

É uma constante neste nosso mercadinho de literatura fantástica: escritores que pagam caro para publicar e agentes literários que prometem lançá-los mediante um módico pagamento.Quero falar um pouco disso.
Sim, é verdade que só posso falar do que funciona ou funcionou comigo, então não espere qualquer regra; são apenas meus dois centavos. Não pretendo, por enquanto, pagar para publicar um livro - há uma exceção, da qual espero poder falar em um futuro próximo. Espero dedicar-me com mais afinco ao trabalho de escrever e divulgar minhas obras. Não tenho talento, formação, experiência nem prática para ser editor. Nem de mim mesmo. É um posicionamento pessoal: não participo de coletâneas que exigem pagamento por parte do autor. Não tenho nada contra quem acha que isso seja uma boa ideia. Certamente, há bons trabalhos e coisas vergonhosas neste formato.
É este o meu ponto.
Sejamos sinceros, caros colegas escritores iniciantes, como eu: não é nada difícil identificar quem é sério e quem não é. Uma pesquisa rápida no Google, reler o e-mail daquele suposto agente literário cheio de erros grosseiros de português, procurar os livros publicados pela editora, a receptividade dos próprios escritores aos títulos editados por esta ou aquela casa, e assim por diante. Faça um favor a si mesmo, a suas obras, ao mercado e a todos nós: entre no Twitter e no Facebook e acompanhe o trabalho das pessoas e editoras que você acredita poderem ajudá-lo com a sua obra. Garanto que, em pouco tempo de pesquisa, os sérios se destacarão.
Além disso, se serve de alerta: não existem agentes literários de editoras, não importa o quão sedutor pareça aquele e-mail bisonho que alguns recebem de tempos em tempos. Sabe o que existe de bom? Bons leitores críticos, editores e escritores. Gente boa disposta a ajudar, com profissionalismo e cuidado. E, ao contrário daqueles supostos agentes, eles pedem de você apenas uma coisa (ok, além de pagar pelos seus serviços, no caso do leitor crítico): trabalho. Nada vai acontecer sem o seu trabalho - e uma boa dose de paciência e humildade, mas isso fica para outro post - e disposição para aprender e  reescrever.
Cada escritor tem sua trajetória, e ela é única. A auto-publicação pode funcionar para você e para mim também, assim como a carreira tradicional em editoras. Há pessoas sérias trabalhando tanto em um formato quanto no outro. O problema não é este, no final das contas: o problema é que já passou da hora de valorizar naturalmente os bons profissionais e deixar os demais para trás.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Selecionados para Lendas Urbanas, da Llyr! Sou um deles!

É, eu sei que este post está mais do que atrasado, mas vale o registro: Fiquei muito feliz com o anúncio dos selecionados para a coletânea sobre Lendas Urbanas, da Llyr Editorial.
Os autores a seguir sairão nas versões impressas e em e-book:

Bruno Anselmi Matangrano – O beco dos aflitos
Carlos Eduardo Von Doellinger Manhães – Bandeira 2
Chico Pascoal – Loira
George Amaral – Zambiapunga
Gian Danton – Bom garoto
Paulo F. – O caso Rita
Ricardo Herdy – Fruto Santo proibido
Sid Castro – O beco dos inocentes
Suzy M. Hekamiah – O diário da ilha
Vitor Vitali – Ruído Fantasma
Vivi Maurey – Tudo breu
Zé Wellington – O mestre dos brinquedos

Já estes aqui (oi?) sairão exclusivamente em e-book:

Ana Lúcia Merege – Pobres Bichinhos
Caio Sinned – A passageira
Lucas Rocha – O homem invisível é dono dos teus olhos
Marcel Breton – Abissal
Marcus Achilles – O Velho do Saco
Pablo Amaral Rebello – A casa das almas perdidas
Vinicius Lisboa – Vem, pequenino

Parabéns a todos os selecionados!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Como assim "escritores de contos não são importantes"?


Momento WTF? da semana: No post The World Says: Short Stories Writers Are Crap, Silvia Moreno-Garcia conta a saga da página do escritor W.H. Pugmire na Wikipedia, que foi marcada para exclusão. Silvia descobriu, entre as justificativas para o expurgo, que Pugmire teria publicado apenas contos e poemas em revistas e antologias de pequenas editoras, em geral voltadas aos fãs de Lovecraft.

Parece-me que esta visão é um tanto comum no público geral. "Escritor" é o sujeito que escreveu um ou mais romances. Para parte do público, contos não chegam sequer a uma etapa intermediária antes do grande romance (e poesia, bem, é algo alienígena que quase ninguém lê). O desinteresse do público por contos é tão grande que já li, mais de uma vez, que os editores, depois do boom de contistas e cronistas brasileiros na segunda metade do século XX, têm fugido deles. E, sim, estou falando de literatura mainstream.

No mundinho da literatura fantástica brasileira, as coletâneas/antologias parecem suprir a ausência de periódicos dedicados aos gêneros e servem, assim, como veículos para a divulgação de novos autores, que vão ganhando desenvoltura ao lado de nomes consagrados (claro que não preciso dizer que falo dos trabalhos e editoras sérias). Não tenho como falar sobre as vendas destas edições, mas, considerando a sua presença no cenário da litfan brazuca, parece não fazer muito sentido pensar nos contos como uma forma "menor" de literatura, já que as antologias continuam a pipocar.

Talvez o maior fantasma esteja mesmo na cabeça dos escritores. A aparente fome inesgotável do mercado por trilogias e sagas extensas de fantasia tem lá sua parte nesta ideia besta. Quanto a isso, só posso falar de minha experiência pessoal, ou seja, o que funciona para mim pode muito bem não funcionar para ninguém mais. Não pretendo escrever agora nenhuma série de livros com dezenas de personagens e situações por uma razão muito simples: é um esforço que demanda o domínio de técnicas que ainda estou amadurecendo. Eu tenho algumas ideias para um projeto desta envergadura, mas no momento, dedico-me aos contos e a um romance ("volume único"), que já me dão trabalho suficiente. Não faço nada disso pensando na possível aceitação do tal mercado, mas como fruto de sinceridade comigo mesmo: Sinto-me mais a vontade para escrever assim e pronto. Encaro os contos como obras que precisam de tanta ou mais dedicação quanto um romance, cada um com seu potencial e limitações. E também os vejo como um campo de experimentação, para exercitar todas as partes de uma história: construção de mundo, personagens, diálogo,  etc. Uma coisa não exclui a outra. Na verdade, quanto mais eu escrevo, mais me sinto a vontade tanto para contar histórias mais enxutas quanto mais longas - e, verdade seja dita, meus contos andam crescendo...

Já aconteceu comigo exatamente o que Silvia relata em seu blog: ao dizer que publiquei contos, a pessoa que perguntou perde o interesse (e quando descobre que é literatura fantástica então...). Não, não me incomodo. Sei onde quero chegar e gosto muito do que estou fazendo. Acredito, basicamente, em dedicação e trabalho árduo, em qualquer gênero e formato. E, se você é, assim como eu, um escritor iniciante que escreve contos, não deveria se preocupar com nada disso. Continue a nadar, diria a Dolly.

Quanto a leitores que realmente acreditam na bobagem dos formatos "inferiores", nunca leram Anton Tchekhov, Dalton Trevisan ou Asimov. Se eu estivesse entre eles, iria correndo experimentar estes e mutos outros grandes autores de pequenas narrativas.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Segurança para Escritores

O editor do Caetano Veloso, quando soube que ele não fazia backups do caudaloso Verdade Tropical enquanto o escrevia no notebook no meio de uma turnê (chances homéricas de algo dar errado), deve ter ficado muito feliz. Inspirado por este post do Luan Felipe no Facebook, decidi resumir aqui o que tenho feito como medidas de segurança para escrever no meu computador (uso Windows):

  • Backup dos textos: Se puder, tenha um HD externo. Arquivos de texto ocupam pouco espaço, então um pendrive também cumpre muito bem o papel. Aprenda a usar aplicativos de backup e programe-os para executar as cópias dos documentos periodicamente. Existem boas opções gratuitas. Eu já usei o EaseUs (download da versão gratuita na CNET) e o Cobian Backup.
  • Mais backup: Uso o Google Drive. Quem já perdeu tudo o que tinha em um HD sabe que não dá para confiar cegamente neles e menos ainda em pendrives, por isso passei a salvar meus textos diretamente na pasta do Google Drive, garantindo sincronização imediata com a web. O que nos leva a outra prática.
  • Salvando documentos: Configurei o Word para salvar meus documentos automaticamente, a cada 10 minutos. Felizmente, tanto o Word quanto o LibreOffice  ou Apache Open Office podem recuperar o arquivo perdido recentemente, no caso de acontecer algo de errado enquanto se digita.
  • Anotando ideias: Ao contrário do Luan, ainda não uso o Evernote, mas deveria. Por enquanto, uso o Google Drive/Docs mesmo para anotar rapidamente uma ideia. 
  • Registrando... : Uma última prática, que nada tem a ver com tecnologia: registrar as obras na Biblioteca Nacional. É simples, não muito rápido (no meu caso, claro: não há escritório em Belo Horizonte) e não é caro também. Muitas editoras só vão aceitar seu original se ele tiver sido registrado.
Bom, é só isso. Se vier a adotar outra prática, escrevo sobre ela. Quem sabe, quando adotar o Evernote.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Lançamento de Caçadores de Vampiros, da Editora Buriti

Já faz algum tempo que a coletânea Caçadores de Vampiros, da editora mineira (minha terra!) Buriti saiu. Depois da divulgação dos selecionados (eu estou entre eles) e da bela capa, agora o livro encontra-se à venda no site da editora e na Amazon.



Com prefácio exclusivo de Dacre Stoker, sobrinho-bisneto de Bram Stoker, a coletânea conta com os autores Adriano Siqueira, Alicia Azevedo, Allana Dilene, Carolina Contini, Georgette Silen, Marcel Breton (oi?) e Violet Fayard.
Além disso, a Buriti deu sequência a série "Caçadores..." com uma nova antologia aberta para submissão de contos, dedicados às bruxas, e outra, sobre mundos fantásticos. Mais sobre elas no post sobre as antologias com submissões abertas, em breve.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Clube dos Leitores de Ficção Científica do Brasil entrega o Prêmio Argos de Literatura Fantástica

Por jornalismo CLFC

O retorno do Prêmio Argos de Literatura Fantástica foi considerado um dos pontos altos do VI Fantasticon – Simpósio de Literatura Fantástica. A cerimônia aconteceu no domingo, dia 23, às 13h, no auditório da Biblioteca Viriato Corrêa, em Vila Mariana, SP. O prêmio Argos 2012 é feito por votação direta dos sócios do Clube dos Leitores de Ficção Científica do Brasil e visa eleger os melhores romances e contos do gênero fantástico (ficção científica, fantasia e terror) publicados em língua portuguesa no ano de 2011.

O escritor Gerson Lodi-Ribeiro foi o vencedor da principal categoria, Melhor Romance, com o livro A Guardiã da Memória.  Gerson também recebeu um prêmio especial pelo conjunto da obra e pelas contribuições à ficção científica nacional, dentre as quais, a própria criação do Argos no final do século passado.

Os outros indicados na categoria Romance, ou História Longa, foram: Eduardo Spohr com Filhos do Éden – Herdeiros de Atlântida; Flávio Carneiro com A Ilha; Luiz Bras com Sonho, Sombras e Super-heróis e Simone Saueressig com B9.
O médico mineiro, Flávio Medeiros Jr, levou o prêmio de melhor história curta com o conto O Pendão da Esperança, publicado na coletânea Space Opera. Os outros concorrentes eram: Alliah com Morgana Memphis Contra a Irmandade Gravibranâmica; Cirilo S. Lemos com O Auto do Extermínio; Clinton Davisson Fialho com A Esfera Dourada e Marcelo Jacinto Ribeiro  com Seu Momento de Glória. Os livros premiados foram publicados pela editora Draco.

A festa foi feita com muito humor e suspense com clara alusão ao prêmio Oscar norte-americano, com direito a um pequeno teatro de cosplayers que terminou com a entrada triunfal do presidente do CLFC, Clinton Davisson, que foi o apresentador da cerimônia. De acordo com a tradutora Mary Farrah, que coordenou a apresentação teatral, o grupo de atores é composto por membros de diversos fãs clubes de Star Wars. “Combinamos com a diretoria do CLFC que essa apresentação se daria gratuitamente, em troca apenas de uma doação do Clube para a instituição Casa da Sopa de Nova Iguaçu. Graças aos sócios, algumas crianças carentes terão um cardápio mais diversificado durante, pelo menos, mais três meses”, falou.

O grande vencedor da noite, Gerson Lodi-Ribeiro, elogiou a festa e se disse emocionado tanto com as premiações que recebeu, quanto com as ações de caráter social que o CLFC vem adotando na nova gestão. “Ficção científica engajada, que serve não apenas para inspirar o futuro com que muitos de nós sonhamos, mas para cuidar e ajudar a consertar o presente. De arrepiar os pelos!”, afirmou.

O prêmio chegou a ser considerado o mais importante do gênero na virada do século quando teve quatro edições, 1999, 2000, 2001 e 2003. Segundo o presidente do Clube dos Leitores de Ficção Científica do Brasil – CLFC, Clinton Davisson, o retorno do Argos faz parte de um plano de metas que visa a retomada definitiva do Clube fundado em 1985 e que chegou a ser reconhecido pela Science Fiction and Fantasy Writers of America – SFWA como entidade representativa no Brasil. “Com o advento da internet, muitas das funções do CLFC foram perdendo a razão de ser. Quando assumi, em outubro do ano passado, a proposta era repensar a utilidade do Clube. Partimos primeiro para retomar tudo o que ele fazia antes, só que adaptado à nova realidade do século XXI; como o Somnium, o antigo fanzine em papel, que foi  adaptado ao formato pdf para ser distribuído on-line; a criação da Biblioteca Nacional de Ficção Científica que estava prevista no estatuto; a volta do site oficial e, agora, o retorno do Prêmio Argos de Literatura Fantástica. Além disso, estamos criando coisas novas, como parceria com editoras para conseguir descontos para os sócios, sorteio de ingressos de cinema e, principalmente, ações sociais voltadas ao incentivo à leitura para crianças, cursos para jovens escritores e a formação de novos leitores”, explica Clinton.

Fonte: Somnium