segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cursed City e Insanas em minhas mãos

Infelizmente, não tive como ir ao lançamento da Cursed City - Onde As Almas Não Têm Valor e Insanas, em São Paulo. Mas, enfim, pude ir ao encontro do Estronhomóvel na Praça do Papa (sou de Belo Horizonte também), conheci a galera que sigo no Twitter: M.D.Amado, Celly Borges e Ana Carolina Silveira. Uma pena que eu estivesse com tanta pressa, pois queria ficar lá e conversar mais - fica para a próxima.
Enfim, sobre os livros... O trabalho da Editora Estronho é sensacional mesmo, eu ainda não havia colocado minhas mãos num livro deles (e sim, prometo que da próxima vez, compro mais...). O acabamento é ótimo e o trabalho gráfico combina impacto e bom gosto - algo sempre difícil - em ambos os títulos. O tiro no Cursed City é a cereja do bolo. Sinceramente, se estes títulos ficassem expostos em grandes livrarias, com certeza chamariam a atenção do público com facilidade. Lamento apenas que, como o próprio Amado disse, BH City não é um território muito favorável a lançamentos em literatura fantástica.
E Cursed City  é meu primeiro trabalho publicado, o conto Sombras. Não poderia estar mais satisfeito e em melhor companhia.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Eu li: Imaginários - Volume 1

Demorei a ler as coletâneas Imaginários da Draco, então começo logo pelo primeiro volume. Antes de mais nada, já digo que é recomendado.

Coleira do Amor, de Gerson Lodi-Ribeiro
Curiosa consequência da quase imortalidade humana: como manter um relacionamento amoroso estável quando o tempo de vida se expande? Boa descrição de futuro, bons personagens (ainda que os diálogos pareçam “técnicos” demais, por vezes) e desfecho trágico e violento.

Eu, a Sogra, de Giulia Moon
Incursão leve e bem-humorada à fantasia na história de uma sogra que é, literalmente, uma bruxa. Narrada pela personagem principal que esbanja simpatia, termina de forma coesa e surpreendente.
Veio... Novamente, de Jorge Luiz Calife
História (bem) convencional sobre contato alienígena, valorizada pelo texto preciso de Calife, que lembra a abordagem de O Caçador, na coletânea As Sereias do Espaço.
A Encruzilhada, de Ana Lúcia Merege
Impressionante capacidade de descrever um mundo de fantasia em um conto curto que dá vontade de continuar lendo indefinidamente. Diálogos e personagens consistentes e cativantes, mas o título entrega parte da trama.
Por Toda a Eternidade, de Carlos Orsi
Um crime espacial que acaba em uma surpresa curiosa e terrível. Com uma pegada mais hard, exige atenção do leitor para acompanhar as idas e vindas da história, especialmente porque é um conto bem curto. 
Twist in My Sobriety, de Flávio Medeiros
Alienígenas e a noite de uma metrópole brasileira do futuro. A narrativa, quase toda sob o ponto de vista do protagonista, flui muito bem e se encaixa na revelação final. A descrição dos aliens é particularmente assustadora, apesar de algum excesso de explicações.

Um Toque do Real: Óleo Sobre Tela, de Roberto de Sousa Causo
A rigor, quase não é um conto fantástico: Um pintor em crise pessoal se vê imerso em delírios metafóricos sobre sua condição, incluindo monstros e desafios. O uso de expressões que fazem referência a atividade do artista enriquecem a narrativa. 
Alma, de Osíris Reis
Eis um conto de leitura mais complicada, em que uma boa ideia acaba se perdendo nos experimentos do autor. Mesmo em uma segunda leitura, a impressão é de alguma coisa fica para trás. Ainda assim, há ótimas cenas, que transmitem boa dose de tensão.
Contingência, Ou Tô Pouco Ligando, de Martha Argel
Deliciosamente irônico, cruel e engraçado, talvez o conto com mais elementos brasileiros da coletânea. Narrado por um escroque sagaz e inteligente, brinca com a ideia de universos paralelos e as consequências mais absurdas de um pequeno ato - citando O Som do Trovão, de Bradbury.
Tensão Superficial, de Davi M. Gonçalves
A estrutura (e o desfecho) lembra bastante um episódio de Twilight Zone, mas o personagem principal não convence: as frases não parecem ter nascido na mente de um adolescente.
Planeta Incorruptível, de Richard Diegues
Costumo torcer o nariz para misturas de FC e religião, mas este conto tem dois trunfos: o ponto de vista dos alienígenas que invadiram a Terra (e o conflito entre suas crenças e o cristianismo terrestre) e a conclusão, irônica.     
Em resumo: Uma ótima coletânea, com a necessária variação de estilos, temas e gêneros que fazem o leitor saltar de um universo a outro em poucas páginas. Os meus contos preferidos são, curiosamente, os das escritoras Giulia Moon, Ana Lúcia Merege e Martha Argel. 
Sobre a capa: Já conhecia o trabalho de Roko. Neste volume, a ilustração parece encarnar os 3 gêneros fantásticos citados na capa - FC, fantasia e terror. 
Em breve, minhas impressões sobre o segundo volume.
Imaginários - volume 1, Organização de Tibor Moricz, Eric Novello e Saint-Clair Stockler. São Paulo: Editora Draco, 1.ª Edição, 2009, 126 páginas. Capa de Roko.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O som das deadlines chegando (de novo)

Eles pararam em frente ao rio Anghar, que corta as terras do Sul na direção do mar de Draseus. Chegariam mais rapidamente ao porto da Cidade Velha se acompanhassem as margens do rio. Fillias ergeu a cabeça, como se isso o ajudasse a pressentir algo, e olhou para a necromante que o acompanhava, sua mulher. Encararam-se por um instante; em seguida, desceram ao mesmo tempo de seus cavalos. Annia se agachou e tocou o solo com a mão esquerda:
- Você também ouve isso?
- Sim. Serão elas de novo?
Fillias ajudou a necromante a se levantar. Sabiam que precisavam de mais tempo; o caminho mais longo para a Cidade Velha também era o mais tortuoso, atravessava montanhas e vales habitados por gigantes rudes e bandos de licantropos enlouquecidos após o assassinato de seu líder pelo rei.
- As deadlines são piores do que a estrada longe do rio. - Ela disse. - Mesmo eu tenho pouco poder contra elas.
- E minha espada seria completamente inútil.
O cavaleiro olhou para a mochila de couro pendurada no dorso do cavalo. Era preciso entregar aquelas histórias ao senhor dos barcos, Otto Vanderi, antes da terceira lua, e ainda havia páginas a escrever. Para isso contava com a ajuda de Annia, conhecedora das extensas linhagens de famílias das eras esquecidas. Se as deadlines os alcançassem, não teriam receio em devorar cada um dos papiros depois de sujá-los com o sangue dos seus autores. Poucas histórias sobreviveram aos seus ataques; ainda menos homens conseguiram descrever como elas haviam destruído suas obras em meio a rugidos e ao som implacável dos cascos ressoando pela floresta.
O mesmo barulho incessante do qual Annia e Fillias se afastavam agora, abandonando o leito seco do outrora caudaloso Rio das Sombras, e adentrando a Grande Floresta em direção às montanhas, aos gigantes e lobos, mas a salvo dos dentes afiados e olhos atentos das deadlines. Ao menos, temporariamente.
***
É isso mesmo. O som das deadlines volta a incomodar. Segue a lista das próximas coletâneas e chamadas, em ordem cronológica, com links para as mesmas. Boa sorte a todos que se dispuserem a cumpri-las:

22/06 - Bonecos : Medo B
O blog MedoB promove a seleção de contos para um e-book: Histórias de terror envolvendo bonecos.

24/06 - Caçadores de Vampiros : Editora Buriti
A editora Buriti pretende lançar uma série de livros com caçadores de seres sobrenaturais - começando com vampiros.

01/07 - FCdoB
O concurso FCdoB já é tradicional. Este biênio, uma novidade: selecionará ilustrações também.

01/07 - Le Monde Bizarre : Estronho
Quem nunca teve medo do circo e dos segredos abaixo da lona e dentro dos trailers?

15/07 - VII Demônios - Ira : Estronho
O último volume da coleção VII Demônios, dedicado a Ira / Azazel. Última oportunidade para participar!

01/08 - Quando o Saci Encontra os Mestres do Terror : Estronho
O Estronho é hiperativo... Aqui, a ideia é unir o folclore nacional ao terror, homenageando-o e dando-o uma nova perspectiva.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Eu li: Guerra Justa, de Carlos Orsi

Acompanho há algum tempo o blog de Carlos Orsi, seu trabalho como jornalista especializado em divulgação científica e lembro-me de quando assinava Carlos Orsi Martinho, na época da IAM. Guerra Justa é o primeiro romance de sua autoria que leio e dá para notar nitidamente a influência dos assuntos que aborda em seu blog: a influência (ou interferência) das religiões e o impacto da ciência e do progresso científico no mundo atual.

Em resumo: após a queda de um meteoro no mar Mediterrâneo, a humanidade se vê orfã de referências geográfico-religiosas, já que os grandes centros de fé foram destruídos em um único evento. Um homem conquista espaço e influência apresentando-se como um profeta habilidoso, capaz de prever grandes e terríveis acontecimentos, aglutinando em seu culto o que restou das religiões afetadas pela catástrofe. Mas há um grupo de rebeldes que não acredita nesta liderança e pretende derrubá-la, envolvendo duas irmãs gêmeas, a freira Rebecca e a cientista Rafaela, em suas ações.

A leitura de Guerra Justa flui rapidamente, graças a fragmentação da narrativa em capítulos curtos e que variam constantemente de ponto de vista, abordando diferentes personagens, tempos e linhas que acabam se influenciando, em maior ou menor grau. A história ganha ritmo de Techno-thriller e me interessei por ela logo nos primeiros capítulos, ou melhor, pelo destino daquele grupo de rebeldes e em sua estratégia incomum para tentar enganar uma suposta entidade capaz de prever cada passo da história: o uso do acaso. Chega a ser engraçado o modo como até mesmo as roupas usadas pelos membros são escolhidas assim.

Quando li a sinopse, me incomodou a ideia de uma história envolvendo personagens gêmeos, que costumam cair no clichê do bacana e do malvadão. É claro que subestimei a inteligência do autor, que, logo nas primeiras páginas, desfaz completamente a expectativa do leitor de uma forma inusitada e até um tanto cruel. Aliás, como dito, a leitura é veloz e, se há um problema neste romance, é a velocidade em que ideias são interessantes são descritas. O mundo de Guerra Justa é plausível e complexo, envolvendo desde implantes neurais que ajudam as pessoas a distinguir o real do virtual (e que, claro, podem ser invadidos e contaminados por vírus) a estações espaciais e inteligências artificiais. É um roteiro ambicioso, e geograficamente amplo, espremido em uma novela de 150 páginas. Não digo que seria melhor se o livro fosse maior - na verdade, este é um mérito, pois não há gordura - mas acaba exigindo uma segunda leitura, mais atenta ao cenário do que a trama, para ser apreciado totalmente. Não sei também se era intenção do autor aproximar a figura do “profeta” das interpretações contemporâneas que algumas denominações cristãs, especialmente protestantes, fazem do Anticristo descrito na Bíblia - eu não consegui afastar esta comparação de minha mente enquanto lia.

Parabéns a Draco que imprimiu algumas passagens “invertidas” (letras brancas sobre folhas pretas) e demonstra mais uma vez um trabalho editorial exemplar. Há um ou outro errinho bem bobo de digitação (“do” no lugar de “da”, este tipo de coisa), mas não chega a atrapalhar.

Guerra Justa, Carlos Orsi. São Paulo: Editora Draco, 1.ª Edição, junho de 2010, 150 páginas. Capa de Erick Sama.