terça-feira, 7 de junho de 2011

Eu li: Guerra Justa, de Carlos Orsi

Acompanho há algum tempo o blog de Carlos Orsi, seu trabalho como jornalista especializado em divulgação científica e lembro-me de quando assinava Carlos Orsi Martinho, na época da IAM. Guerra Justa é o primeiro romance de sua autoria que leio e dá para notar nitidamente a influência dos assuntos que aborda em seu blog: a influência (ou interferência) das religiões e o impacto da ciência e do progresso científico no mundo atual.

Em resumo: após a queda de um meteoro no mar Mediterrâneo, a humanidade se vê orfã de referências geográfico-religiosas, já que os grandes centros de fé foram destruídos em um único evento. Um homem conquista espaço e influência apresentando-se como um profeta habilidoso, capaz de prever grandes e terríveis acontecimentos, aglutinando em seu culto o que restou das religiões afetadas pela catástrofe. Mas há um grupo de rebeldes que não acredita nesta liderança e pretende derrubá-la, envolvendo duas irmãs gêmeas, a freira Rebecca e a cientista Rafaela, em suas ações.

A leitura de Guerra Justa flui rapidamente, graças a fragmentação da narrativa em capítulos curtos e que variam constantemente de ponto de vista, abordando diferentes personagens, tempos e linhas que acabam se influenciando, em maior ou menor grau. A história ganha ritmo de Techno-thriller e me interessei por ela logo nos primeiros capítulos, ou melhor, pelo destino daquele grupo de rebeldes e em sua estratégia incomum para tentar enganar uma suposta entidade capaz de prever cada passo da história: o uso do acaso. Chega a ser engraçado o modo como até mesmo as roupas usadas pelos membros são escolhidas assim.

Quando li a sinopse, me incomodou a ideia de uma história envolvendo personagens gêmeos, que costumam cair no clichê do bacana e do malvadão. É claro que subestimei a inteligência do autor, que, logo nas primeiras páginas, desfaz completamente a expectativa do leitor de uma forma inusitada e até um tanto cruel. Aliás, como dito, a leitura é veloz e, se há um problema neste romance, é a velocidade em que ideias são interessantes são descritas. O mundo de Guerra Justa é plausível e complexo, envolvendo desde implantes neurais que ajudam as pessoas a distinguir o real do virtual (e que, claro, podem ser invadidos e contaminados por vírus) a estações espaciais e inteligências artificiais. É um roteiro ambicioso, e geograficamente amplo, espremido em uma novela de 150 páginas. Não digo que seria melhor se o livro fosse maior - na verdade, este é um mérito, pois não há gordura - mas acaba exigindo uma segunda leitura, mais atenta ao cenário do que a trama, para ser apreciado totalmente. Não sei também se era intenção do autor aproximar a figura do “profeta” das interpretações contemporâneas que algumas denominações cristãs, especialmente protestantes, fazem do Anticristo descrito na Bíblia - eu não consegui afastar esta comparação de minha mente enquanto lia.

Parabéns a Draco que imprimiu algumas passagens “invertidas” (letras brancas sobre folhas pretas) e demonstra mais uma vez um trabalho editorial exemplar. Há um ou outro errinho bem bobo de digitação (“do” no lugar de “da”, este tipo de coisa), mas não chega a atrapalhar.

Guerra Justa, Carlos Orsi. São Paulo: Editora Draco, 1.ª Edição, junho de 2010, 150 páginas. Capa de Erick Sama.

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