quinta-feira, 16 de junho de 2011

Eu li: Imaginários - Volume 1

Demorei a ler as coletâneas Imaginários da Draco, então começo logo pelo primeiro volume. Antes de mais nada, já digo que é recomendado.

Coleira do Amor, de Gerson Lodi-Ribeiro
Curiosa consequência da quase imortalidade humana: como manter um relacionamento amoroso estável quando o tempo de vida se expande? Boa descrição de futuro, bons personagens (ainda que os diálogos pareçam “técnicos” demais, por vezes) e desfecho trágico e violento.

Eu, a Sogra, de Giulia Moon
Incursão leve e bem-humorada à fantasia na história de uma sogra que é, literalmente, uma bruxa. Narrada pela personagem principal que esbanja simpatia, termina de forma coesa e surpreendente.
Veio... Novamente, de Jorge Luiz Calife
História (bem) convencional sobre contato alienígena, valorizada pelo texto preciso de Calife, que lembra a abordagem de O Caçador, na coletânea As Sereias do Espaço.
A Encruzilhada, de Ana Lúcia Merege
Impressionante capacidade de descrever um mundo de fantasia em um conto curto que dá vontade de continuar lendo indefinidamente. Diálogos e personagens consistentes e cativantes, mas o título entrega parte da trama.
Por Toda a Eternidade, de Carlos Orsi
Um crime espacial que acaba em uma surpresa curiosa e terrível. Com uma pegada mais hard, exige atenção do leitor para acompanhar as idas e vindas da história, especialmente porque é um conto bem curto. 
Twist in My Sobriety, de Flávio Medeiros
Alienígenas e a noite de uma metrópole brasileira do futuro. A narrativa, quase toda sob o ponto de vista do protagonista, flui muito bem e se encaixa na revelação final. A descrição dos aliens é particularmente assustadora, apesar de algum excesso de explicações.

Um Toque do Real: Óleo Sobre Tela, de Roberto de Sousa Causo
A rigor, quase não é um conto fantástico: Um pintor em crise pessoal se vê imerso em delírios metafóricos sobre sua condição, incluindo monstros e desafios. O uso de expressões que fazem referência a atividade do artista enriquecem a narrativa. 
Alma, de Osíris Reis
Eis um conto de leitura mais complicada, em que uma boa ideia acaba se perdendo nos experimentos do autor. Mesmo em uma segunda leitura, a impressão é de alguma coisa fica para trás. Ainda assim, há ótimas cenas, que transmitem boa dose de tensão.
Contingência, Ou Tô Pouco Ligando, de Martha Argel
Deliciosamente irônico, cruel e engraçado, talvez o conto com mais elementos brasileiros da coletânea. Narrado por um escroque sagaz e inteligente, brinca com a ideia de universos paralelos e as consequências mais absurdas de um pequeno ato - citando O Som do Trovão, de Bradbury.
Tensão Superficial, de Davi M. Gonçalves
A estrutura (e o desfecho) lembra bastante um episódio de Twilight Zone, mas o personagem principal não convence: as frases não parecem ter nascido na mente de um adolescente.
Planeta Incorruptível, de Richard Diegues
Costumo torcer o nariz para misturas de FC e religião, mas este conto tem dois trunfos: o ponto de vista dos alienígenas que invadiram a Terra (e o conflito entre suas crenças e o cristianismo terrestre) e a conclusão, irônica.     
Em resumo: Uma ótima coletânea, com a necessária variação de estilos, temas e gêneros que fazem o leitor saltar de um universo a outro em poucas páginas. Os meus contos preferidos são, curiosamente, os das escritoras Giulia Moon, Ana Lúcia Merege e Martha Argel. 
Sobre a capa: Já conhecia o trabalho de Roko. Neste volume, a ilustração parece encarnar os 3 gêneros fantásticos citados na capa - FC, fantasia e terror. 
Em breve, minhas impressões sobre o segundo volume.
Imaginários - volume 1, Organização de Tibor Moricz, Eric Novello e Saint-Clair Stockler. São Paulo: Editora Draco, 1.ª Edição, 2009, 126 páginas. Capa de Roko.

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